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O que faz o profissional de Contabilidade


Data: 19 de junho de 2013
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Por Camila Penha

 

Três jovens com uma vontade pouco comum: trabalhar com números, dados e uma calculadora sempre ao seu lado. Uma delas, Bianka Marques da Silva Schmidt, 27 anos, já está lá na frente. Formada em Ciências Contábeis pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) no ano passado, ela já tem o próprio escritório de contabilidade e carrega uma experiência vasta na área, que começou ainda antes do ingresso na faculdade.

Bruna de Siqueira, 16, e Laysa Manes, 17, esclareceram dúvidas e ouviram dicas da contadora a respeito da carreira que desejam seguir. O bate-papo teve desde a desmistificação de alguns aspectos da profissão, até uma aula sobre as diferentes possibilidades de atuação.

A jovem contadora

Bianka Marques da Silva Schimdt sempre gostou da área empresarial, e já era, na prática, contadora bem antes de se formar, no ano passado. Desde os 16 anos estagiava e trabalhava no comércio. Começou como digitadora em uma empresa de arquivos e documentos, e depois passou para o setor financeiro de algumas lojas. Quando ingressou na faculdade de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), já conhecia muitas das técnicas e do dia a dia da profissão.

Para ela, uma máxima nas Ciências Contábeis é que "a teoria é importante, mas a prática vale muito". Por isso, recomenda aos atuais e futuros estudantes do curso que comecem a estagiar desde as primeiras fases. Atualmente Bianka trabalha em seu próprio escritório de contabilidade, o B2 Schmidt Serviços Contábeis, em São José.

No caminho certo

Laysa Maria Manes, 17 anos, se parece em muitos aspectos com a contadora Bianka Schmidt. Também já trabalhou na área de contabilidade antes mesmo de ingressar no curso. Inclusive, em março ela deixou o trabalho em um escritório de contabilidade onde estava desde maio do ano passado, para se dedicar à preparação para o vestibular. O interesse surgiu ainda criança, por gostar mais de "papel e caneta do que de bonecas", brinca, e pelo fato de uma prima já atuar na área. Ela acredita que a experiência vai ser bastante útil durante a faculdade, e espera conseguir trabalhar com perícia contábil ou fazer concurso público.

Impressões da estudante

Me identifiquei muito com a Bianka, por causa da maneira como ela começou. Eu já tinha certeza de que queria o curso, mas sempre resta um pouco de dúvida. Uma das coisas que me fez ter mais certeza foi saber que o curso tem disciplinas do Direito e da Economia, de que eu sempre gostei bastante.

Surpresas sobre o curso

A jovem de 16 anos Bruna de Siqueira Maurício é natural de Palhoça, está no 3º ano do ensino médio e tem dúvidas sobre qual profissão quer seguir. Ela começou a pensar em cursar Ciências Contábeis depois que, em uma conversa com os pais, foi sugerido que ela trabalhasse nos negócios da família. Bruna pesquisou um pouco sobre Administração e Ciências Contábeis, e se interessou mais pelo segundo. Considera ainda Jornalismo e Engenharia Civil, área do curso técnico que faz atualmente (Técnico em Edificações, no Senai).

Impressões da estudante

Achei a conversa com a Bianka muito esclarecedora, e pude perceber que a realidade durante o curso e depois de formado é bem distinta do que eu imaginava. Me surpreendi ao saber que cálculo ocupa a menor parte do curso, enquanto são comuns matérias de direito. Confesso que me decepcionei um pouco, mas não o suficiente para desistir do curso.

Como foi o bate-papo

Funções e mitos
De maneira geral, o que faz um contador?


As Ciências Contábeis são ciências sociais aplicadas. Basicamente, o contador registra o que ocorre na empresa em termos de números, e transforma isso em relatórios, que servem tanto para a prestação de contas da empresa ao fisco, como para ajudar na tomada de decisões. Aos olhos da sociedade, não é uma profissão tão reconhecida, porque as pessoas não sabem bem o papel do contador, acham que podem "dar um jeito" em tudo na empresa. Ainda estamos buscando este reconhecimento.

Matemática

Ao contrário do que muitas pessoas pensam, no curso não predominam disciplinas de matemática. Bianka conta que o currículo do curso é formado por disciplinas de Direito, Economia, Ciências Sociais, entre outros cursos, e a matemática aparece de maneira mais aplicada.

Áreas de atuação

A contabilidade vai te abrir um leque. Existem muitas áreas de atuação. Dentro de um escritório de contabilidade pode-se trabalhar com departamento pessoal, setor tributário e diretamente com o setor contábil. É possível focar na perícia contábil, que vai utilizar procedimentos técnicos e científicos para auxiliar em decisões jurídicas, como, por exemplo, a separação contábil de uma empresa, por exemplo. O perito é nomeado por um juiz. Existe ainda a auditoria contábil, que revisa e atesta a autenticidade de um relatório contábil, a consultoria e, uma das opções mais buscadas devido à alta remuneração: os concursos públicos.

Remuneração e mercado de trabalho

A remuneração varia muito de acordo com a área de atuação, mas geralmente não é compatível com a responsabilidade que se tem. Quem trabalha em escritórios recebe, em média, os salários mais baixos. Consultores mais experientes, peritos e auditores são mais bem remunerados, assim como concursados que trabalham com contabilidade pública. Mesmo com essas variações, sempre existe demanda no mercado.

Especialização
É preciso escolher entre auditoria e perícia, por exemplo?


Não, são duas cadeiras obrigatórias na faculdade, e você pode focar em uma delas — ou nas duas — dedicando tempo e acumulando experiência em um escritório especializado nessas áreas.

É preciso se especializar em alguma área após a conclusão do curso?

Não. Existem cursos voltados para áreas específicas da contabilidade, mas a prática fala mais alto nesses casos. Ganhar experiência e estudar por conta própria é um caminho melhor para se tornar um perito ou um auditor contábil, por exemplo.

Por dentro da carreira

Opções de atuação
Pode-se trabalhar em escritórios de contabilidade, fazendo o balancete e a prestação de contas de vários clientes para o fisco nacional, ou, na mesma função, dentro de uma única empresa, com administração financeira (captação de recursos e tesouraria). Nesse caso, muitas vezes assume-se a controladoria da empresa, analisando os indicadores de performance, de lucros e custos. Muitos graduados em Ciências Contábeis atuam como consultores financeiros de empresas, ou prestam concursos públicos. Também é possível trabalhar como contador gerencial, contador de custos, analista financeira e com planejamento tributário.

O coordenador do curso de Ciências Contábeis da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Ernesto Fernando Rodrigues Vicente, aponta a auditoria e a perícia contábil como áreas promissoras. O auditor é o profissional que verifica se uma empresa cumpre as normas contábeis. Para isso, ele precisa fazer uma amostragem e obter indícios de que possíveis fraudes. Empresas de capital fechado com ativos (conjunto de bens, valores e créditos que formam o patrimônio de uma empresa) acima de R$ 300 milhões são obrigadas a passar por auditoria. E empresas de capital aberto devem ser auditadas e publicar o resultado dessa auditoria.

O perito contábil é nomeado pelo poder judiciário e auxilia na tomada de decisões principalmente para esclarecer litígios (discordâncias entre as partes) em processos que envolvam separação de patrimônio, por exemplo.

O que é mais gratificante
Para Bianka Schimdt, ajudar uma empresa a funcionar dentro dos padrões e da legislação é uma das maiores satisfações que a profissão traz. Poder encontrar formas de tributação que favoreçam uma empresa em especial, de forma que ela consiga pagar menos impostos dentro da legislação também é muito gratificante. Na opinião do professor Ernesto Vicente, a área contribui muito para as pessoas entenderem como as empresas funcionam financeiramente.

O que é mais difícil
Para Bianka, o pouco reconhecimento do profissional é ainda é um grande desafio. A intromissão do fisco na vida contábil de empresas e pessoas é apontada pelo coordenador do curso de Ciências Contábeis da UFSC como um desafio constante. Para ele, as leis e as mudanças na legislação, assim como os tributos e impostos acabam prejudicando as empresas e a economia do país.

Do que precisa gostar
Na opinião do professor Ernesto Vicente, para se conseguir lidar com o dia a dia da profissão é preciso ser disciplinado e organizado. É importante que a pessoa goste de raciocínio lógico e de desafios com números. Mesmo assim, ele acredita que quem gosta de ciências humanas vai se dar bem, pois entender a sociedade e se interessar por História também é importante. O trabalho do contador costumava ser realizado mais individualmente, característica que tem mudado recentemente. Trabalhar em equipe, inclusive com os diretores e administradores da empresa, está cada vez mais comum.

Disciplinas e tempo de duração
O curso de Ciências Contábeis da UFSC é composto por nove semestres (em média, quatro anos e meio), durante os quais o estudante vai ter contato com disciplinas de diferentes departamentos da universidade, principalmente do Direito, da Administração e da Economia, como Direito tributário, Legislação comercial e societária.

O professor Ernesto Vicente explica que o curso possui disciplinas específicas e bem voltadas para a prática, como Contabilidade I e II, em que se aprendem as técnicas e procedimentos do dia a dia da profissão, como fazer balancetes e lançar notas. Contabilidade de custos e Contabilidade Cooperativa são outras disciplinas específicas que o estudante vai encontrar. Na área de exatas, o curso traz matemática básica — revisão de aritmética e noções de funções derivadas para tomada de decisões — e matérias como matemática financeira e estatística.

O curso vai se tornando mais complexo e o aluno aprende a fazer a análise de demonstrativos contábeis, demonstração de resultados e a contabilizar o estoque de uma empresa, por exemplo.

Mercado de trabalho
O professor Ernesto Vicente afirma que o mercado sempre aceita profissionais, mas o sucesso e o crescimento do contador no mercado depende da maneira como ele se diferencia. Atualmente, por exemplo, é muito importante ter conhecimento de inglês e outros idiomas. Experiências de intercâmbio são bastante valorizadas na hora de fazer trainees de multinacionais. O professor aponta que investir na carreira acadêmica é um caminho interessante. No Brasil há falta de professores com mestrado e doutorado em Ciências Contábeis.

Salário inicial
O Conselho Regional de Contabilidade de Santa Catarina (CRC-SC) informa que não existe um piso para profissionais de contabilidade no Estado. O Sindicato das Empresas de Serviços Contábeis, Assessoramento, Perícias, Informações e Pesquisas no Estado de Santa Catarina (Sescon-SC) possui uma tabela de honorários para a categoria, que estabelece a remuneração indicada de acordo com o setor (comércio, indústria, serviços, etc) e o porte da empresa. Confira a tabela completa no site www.sesconsc.org.br.
 

Fonte: DIÁRIO CATARINENSE

 

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